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Marcelo Catalano | Colorbox
Texto crítico: J. Wair de Paula Jr.
Curadoria: João Sobral e Marcelo Catalano
Sobre a natureza das cores
A substância é eterna, pregou Tito Lucrécio em seu De Rerum Natura - Sobre a Natureza das Coisas (séc. I A.C.). Para ele, nada procede do nada, por milagre divino, e retorna ao nada. As coisas são constituídas por sementes eternas, ou seja, os átomos. Eles constituem o mundo, nada os precede.
Pulemos alguns séculos – mais precisamente para o final do século XIX, onde a Teoria da Pura Visibilidade entra em cena – pensamento este que foi um dos pilares de um de nossos maiores teóricos sobre arte e sobre o fazer artístico, Waldemar Cordeiro. Esta teoria combate a idéia de sensibilidade estética e defende, para a arte, um estatuto de meio de conhecimento tão importante quanto às ciências. Em 1949, Cordeiro publica um texto que diz “...defendemos a linguagem real da pintura que se exprime com linhas e cores que são linhas e cores, e não desejam ser peras nem homens.”
Estamos frente às obras de Marcelo Catalano – faixas/blocos de cor sobre papéis indianos, únicos, singulares, artesanais. Nestes trabalhos, as estruturas são constituídas por cores, elas regem a dinâmica. Sobrepõem-se às formas, às estruturas – e acabam por estabelecer as regras da composição, predominando-se sobre o delicado equilíbrio destas imagens, e embora possam remeter aqui a planetas, ali a paisagens, elas são o que são – cores, conjuntos de átomos, nada mais as precede, são soberanas.
Discute-se e aprova-se nestas obras a pura expressão do pensamento de Waldemar Cordeiro, uma linguagem real da pintura, manifestada as vezes de forma violenta, as vezes em matizes mais poéticas, mas – pura pintura, organizada pelo artista, manifestando suas idéias para posterior fruição do expectador. Consideremos que as formas possuem um conteúdo formal próprio, significados próprios, desligados de temas históricos, referenciais.
Cabe também, neste conjunto de obras, uma reavaliação contemporânea do termo objet trouvé ao observarmos os trabalhos feitos com restos de fita adesiva – materiais estes oriundos de outros trabalhos. As fitas adquirem nova propriedade – um “objeto” esvaziado de sua função anterior adquire aqui nova personalidade, reforçando de forma anárquica o discurso da preponderância da cor sobre a estrutura.
Não é ocasional, casual ou aleatório o uso do papel como suporte desta série. Este foi uma das primeiras plataformas formais de comunicação e documentação criadas pelo homem, e é o veículo ideal para reforçar o discurso matérico, cru, destes trabalhos. Cor sobre o papel, sem emendas, sem consertos, sem correções – apenas a idéia original, a substância, eterna, nada a precede.
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